
► Rousseau foi o primeiro a defender em seu notável "Contrato Social" a tese de um governo democrático baseado na educação do povo. Anteriormente visavam os mestres apenas à educação dos príncipes e membros da nobreza. A educação, como todas as manifestações da sociedade, reflete as mudanças verificadas na existência dos homens; assim, sua fase social teve início quando procuraram estender, à grande parte da sociedade, os privilégios e benefícios até então usufruídos por pequena minoria.
Há pouco dias atrás fui convidado a participar de uma palestra sobre o tema. Confesso que foi muito enriquecedor, todavia cheguei à conclusão que no Brasil há um enorme abismo entre o discurso e a prática. É a chamada consciência sem tendência. Enfatizo em bom tom, que o dinheiro investido na área educacional pelo Governo Federal é mal aplicado.
Pesquisei alguns dados e vi que estamos perdendo espaço até para paises da América Latina, como por exemplo o Chile. O Brasil corre o risco de não atingir parte das metas de educação traçadas em 2000 pelas Nações Unidas, no encontro Educação Para Todos.
Pecamos pela falta de qualidade na educação e pelas dificuldades na alfabetização de adultos. Entre 121 paises, o Brasil aparece em 71º lugar. Quando a avaliação passa para o número de crianças que chegam à 5º série do ensino fundamental, a coisa piora, vamos para o 85º, próximo de paises africanos como a Zâmbia e Senegal. Aqui o índice de repetência é de 32% na primeira série. É mais alto que no Paraguai 14% e na Indonésia 11%. Nos países desenvolvidos, este número é de 3%.
Enquanto perduram discussões pedagógicas para sabermos se o melhor é construtivismo, neoconstrutivismo, construtivismo social, ou se o bom é Paulo Freire, Piaget ou Vigotski; nossas escolas estão aí caindo aos pedaços. No atual contexto é preciso ter professores valorizados e que possam passar por cursos de atualização permanente, ter escolas em condições de atender aos alunos e funcionários com o mínimo de decência. Quando tivermos isso, aí sim, passaremos para discussões mais complexas. No momento é preciso ver a luz no fim do túnel, todavia é mister achar o túnel primeiro.
Outro problema sério é que só agora conseguimos atingir 100% de matrícula na ensino fundamental e 40% no ensino médio. Já nos paises desenvolvidos o patamar de 100% já foi atingido há décadas, tanto no primário quanto no secundário. O Governo tem um gasto enorme com as universidades públicas que, na verdade, poderíamos até dizer que elas funcionam simplesmente como um instrumento perpetuador da concentração de renda. Quem estuda nessas instituições, na maioria das vezes é quem pode pagar. Isto é justiça social? Este é um Brasil de todos?
Aqui, o ensino faz um xis, o pobre estuda em colégio público, que está sendo sucateado, enquanto quem pode pagar estuda em colégio particular de boa qualidade. Mais tarde há uma inversão, o pobre se tiver condição vai para faculdade particular, diga se de passagem, que na verdade ele faz "dificuldade". Na outra ponta, os filhos de ricos vão para as instituições públicas, que não têm nada de públicas, já que são subsidiadas com nossos impostos. O dinheiro público gera dois tipos de ensinos, um bom e um ruim. Só este ano as universidades ficaram meses sem ter aulas.
Vejamos alguns dados sobre os gastos do governo com o ensino universitário. Na média, os países em desenvolvimento gastam com um universitário quatro vezes mais do que com um aluno do ensino médio. Nas nações desenvolvidas, essa proporção cai para 1,7 aluno. Já no Brasil, um universitário custa o mesmo que 15 alunos do ensino médio. É um absurdo! Uma casa se constrói da base em direção à cumeeira, não ao contrário.
Quanto a reserva de vagas para negros, pardos e índios é muito boa, mas nós queremos mesmo é aprender a pescar não ficar comendo na mão dos outros. Outra coisa, nos Estados Unidos, onde a política de cotas foi criada e teve bons resultados, havia um reforço pedagógico aos estudantes cotistas. Com este amparo, jovens negros americanos conseguiam não só entrar, mas, também, permanecer nas universidades. Neste cipoal de discussões, surge uma incógnita quanto às vagas daqueles que são pobres. Esta questão dicotômica de raça e classe deve ser analisada.
Se melhorássemos a educação básica das pessoas menos qualificadas, elas com certeza, poderiam chegar à universidade pela meritocracia. "A universidade pública não é um bem público, pois privilegia uma elite e gera uma desigualdade de renda", afirma o mestre em economia Gustavo Ioschpe que presta consultoria ao MEC e é autor do livro "A ignorância custa um mundo”, Editora Francis.
2 comentários:
valeu agnaldo, sua visão é de vanguarda. O Governo só se preocupa com as coisas sem importância deste país. Precisamos é de intelectuais com este seu ponto de vista. Sucesso.
Tãnia de souza de Resende-RJ
Muito bom camarada Agnaldo Barros, seu artigo é de quem sabe das coisas. Seu amigo Plínio Setúbal. Que você continue essa figura genial que Você é.
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